COLUNISTAS Não Robotize a Maternidade

A grandiosidade de ser mãe: entre renúncias, melecas e beijos de amor

Mãe não é só em maio.
Não se encerra em flores, comerciais emotivos ou lembrancinhas feitas com guache.
Ser mãe é um exercício diário, visceral, profundo. Um chamado que ecoa todos os dias, dentro e fora de casa, nos silêncios e nos gritos, nas madrugadas insones e nos cafés frios deixados pela metade.

A grandiosidade de ser mãe não mora nas homenagens — ela vive na prática.
Está no instante em que uma mulher escolhe, consciente ou não, colocar um outro ser humano no centro de sua vida. Está no momento em que ela abre mão da própria solitude — esse espaço sagrado de quem pode simplesmente se bastar — para dividir corpo, tempo, atenção e vida com alguém que, nos primeiros anos, depende de absolutamente tudo.

Não, ser mãe não é romântico. É exaustivo. É olhar para o espelho e não se reconhecer. É vestir roupas com manchas de leite, é comer em pé, é não lembrar quando foi o último banho demorado. É sentir culpa por querer estar sozinha e, ao mesmo tempo, sentir saudade enquanto a criança ainda brinca no quarto ao lado.

É lidar com birras — as deles e as nossas. Porque, sim, às vezes a gente também grita, também perde o controle, também se desespera. Somos humanas, não heroínas. E é justamente na vulnerabilidade que mora a potência da maternidade real: aquela que não se mascara de perfeição.

Mas, ah… como é bonito também.

Bonito quando uma mãozinha procura a nossa no meio da noite.
Quando um beijo molhado é dado sem motivo.
Quando um “te amo” brota com a pureza de quem ainda não aprendeu a mentir.
Bonito é ver o filho crescer, tropeçar, se frustrar, conquistar.
É perceber que estamos formando alguém — e, no processo, também nos transformamos.

Ser mãe também é reencontrar-se, reinventar-se, recomeçar.
A maternidade é feita de ciclos, de estações que se sucedem. E, ainda que o inverno doa, a primavera sempre vem — num sorriso com dente nascendo, numa gargalhada espontânea, num abraço apertado ao fim do dia.

Por isso, quando me perguntam por que celebramos o Dia das Mães, eu digo: ele não está no calendário. Está em cada dia vivido com entrega, presença, dor e amor.

Nós somos mães todos os dias.
Nos dias fáceis e nos que apertam o peito.
Nos dias de glória e nos de fracasso.
Porque a grandiosidade de ser mãe não está no que fazemos. Está no como fazemos. Com alma, com instinto, com fé. Com a certeza de que, apesar de tudo, vale — e sempre valerá — a pena.

Por Daniela Fontana

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