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Crise na CBF: Ednaldo Rodrigues perde apoio e vê liderança ruir após reeleição

Menos de dois meses após ser reeleito por aclamação presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no dia 24 de março, Ednaldo Rodrigues — natural de Vitória da Conquista — enfrenta seu pior momento político e institucional. A base de apoio que o reconduziu ao cargo rapidamente se desfez, e ele foi destituído novamente pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

A tentativa de retomar o comando da entidade agora está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), mas mesmo isso parece incerto. Até aliados que articulavam sua volta em 2023 admitem que chegou a hora de “apagar Ednaldo da história da CBF”.

A fase ruim da Seleção Brasileira, que foi goleada pela Argentina no dia seguinte à eleição, somada a denúncias internas de assédio moral, ambiente de tensão e centralização excessiva de decisões, aceleraram o desgaste do dirigente.

Internamente, o clima já era de ruptura. A Justiça nomeou Fernando Sarney, vice-presidente da entidade desde os anos 2000, como interventor e ordenou a convocação de novas eleições. Ele foi peça-chave no processo de transição e articulador da queda de Ednaldo.

Um fator crucial para o enfraquecimento da defesa jurídica de Ednaldo foi o abandono de seu time original de advogados: Pierpaolo Bottini, Igor Tamasauskas, Otávio Mazieiro e o ex-ministro da Justiça Eduardo Cardozo, que haviam liderado sua primeira vitória judicial no STF. Nenhum deles participou da nova ação protocolada após seu afastamento.

Até mesmo o ministro Gilmar Mendes, responsável por devolvê-lo à presidência em 2023, começou a se distanciar. A devolução do processo ao TJ-RJ foi interpretada como um recuo estratégico. Gilmar, inclusive, foi alvo de críticas por não se declarar impedido em decisões envolvendo a CBF, devido a vínculos com a entidade por meio do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

Nos bastidores, a pressão política também cresceu. Parlamentares, ministros e membros do Executivo passaram a evitar associação com a imagem desgastada de Ednaldo, marcada por denúncias e polêmicas.

Nem mesmo a contratação de Carlo Ancelotti, sonho antigo de Ednaldo para o comando da Seleção, conseguiu reverter sua derrocada. Um dia após o anúncio, ele convocou uma reunião com presidentes de federações na tentativa de demonstrar força, mas o baixo comparecimento foi um sinal evidente de isolamento.

Enquanto isso, nos bastidores das federações, a articulação por uma nova liderança já acontecia. Ricardo Gluck Paul, presidente da Federação Paraense de Futebol, coordenou movimentos com entidades dissidentes para construir uma candidatura de consenso. A escolha recaiu sobre Samir Xaud, médico de 41 anos, com perfil técnico e externo ao grupo tradicional da CBF — uma aposta em renovação.

Com apoio de 19 federações, a candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos (Federação Paulista), embora respaldada por 32 clubes das Séries A e B, foi retirada. A articulação decisiva, costurada por Flávio Zveiter, ex-vice da CBF e crítico de Ednaldo, consolidou o nome de Xaud. No sábado anterior à eleição, o grupo já somava 23 federações e 10 clubes, número suficiente para impedir qualquer chapa adversária.

No domingo, antes mesmo da eleição, Samir Xaud já circulava pela sede da entidade ao lado de seus oito vice-presidentes — entre eles: Ricardo Paul, Flávio Zveiter e Fernando Sarney.

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