A Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) aprovou, na última semana, uma Moção de Repúdio ao jornal Folha de S. Paulo, direcionada ao jornalista Valdinei Ferreira, autor do artigo intitulado “Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?”. A proposição foi apresentada pela vereadora Doutora Lara Fernandes, que expressou indignação diante do que considerou um desrespeito à fé cristã e às tradições religiosas do povo brasileiro.
A análise de Ferreira foi publicada três dias antes da Páscoa, data central para os cristãos, o que intensificou as reações. O artigo reacendeu debates teológicos e gerou repercussões especialmente intensas no meio evangélico, que classificou o texto como ofensivo e teologicamente inadequado. Diante da pressão pública, a instituição de ensino onde Ferreira lecionava optou por seu desligamento.
Ex-pastor da histórica Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, Ferreira é conhecido por defender uma visão progressista do cristianismo e por críticas frequentes ao conservadorismo religioso. No artigo, além de abordar o papel simbólico de Judas Iscariotes, ele também lançou uma crítica indireta ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), destacando os riscos do uso explícito da religião na política.
Um dos trechos que mais repercutiram foi a frase: “Judas tinha certezas demais sobre quem era Jesus” — utilizada por Ferreira para argumentar contra convicções religiosas absolutas moldando decisões políticas. Durante o feriado pascal, a declaração foi considerada, por muitos, insensível e desrespeitosa.
Em sua defesa, o autor publicou uma nota em 24 de abril esclarecendo que o texto não apresenta como fato histórico que Jesus traiu Judas, mas sim uma leitura simbólica baseada na visão do teólogo Jean-Yves Leloup, que interpreta Judas como um arquétipo da humanidade: alguém que age impulsionado por certezas religiosas rígidas.
Na justificativa da moção, a vereadora destacou que o conteúdo do artigo ataca diretamente os princípios fundamentais da fé cristã, gerando desconforto e revolta em fiéis de diversas denominações. “Trata-se de uma inversão de valores que fere o sentimento religioso da maioria da população. É preciso respeitar a fé cristã, que é base de vida para milhões de brasileiros”, afirmou.